Pelo passado, sincera gratidão; pelo presente, alegria; para o futuro a esperança vivenciada no amor e no serviço, a exemplo de Maria

Jaqueline Montoya- Celebrar 50 anos de história é, sem dúvida, uma data marcante. Nesses momentos, é natural olhar para o passado, observar as conquistas, alegrias e também as dificuldades. Naturalmente se observa também o presente, mas faz-se necessário ainda lançar o olhar para o futuro. Na tarde de 17 de setembro, a Missa Jubilar encerrou os festejos do Jubileu de Ouro do Santuário da Permanente Presença do Pai, em Atibaia/SP. Na ocasião, Dom Sérgio Aparecido Colombo, bispo da diocese de Bragança Paulista, se dirigiu aos peregrinos com reflexões neste sentido. Confira na íntegra as palavras de Dom Sérgio:

“Pai, confiamos em ti e caminhamos na tua presença”.

Queridas irmãs, queridos irmãos, estamos reunidos para celebrar o Jubileu de Ouro do Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, em Atibaia/SP. Saudamos a comunidade das irmãs de Maria de Schoenstatt, presbíteros de nossa diocese, de outras dioceses que aqui estão presentes, seminaristas, religiosas visitantes e tantos peregrinos e peregrinas. 

O que é um jubileu? Se formos consultar a Sagrada Escritura, portanto, na perspectiva da Bíblia, o jubileu é um ano de graça. Assim definiu, assim explicou São Paulo VI, o jubileu é um tempo de renovação, de reconciliação. Tempo de indulgência e peregrinação. Jesus ao apresentar na sinagoga de Nazaré o seu programa messiânico definiu o jubileu como uma nova situação para a qual se encaminha toda a humanidade. Reconciliação e partilha, tornando realidade a fraternidade e a comunhão. Assim, meus irmãos e minhas irmãs, se o jubileu permanece como um projeto a ser alcançado no agir de Jesus, na pessoa Dele, o jubileu já se tornou realidade. Um modo novo de tratar as coisas, bens materiais, posses e também um modo novo de tratar as pessoas. Novas relações, sem exclusão e com dignidade.

A tradição dos jubileus cristãos, o do ano 1.300 e séculos seguintes, iniciou ligando a indulgência uma peregrinação, mais exatamente a uma romaria, pois naquele tempo e em tempos subsequentes, se tratava de ir à Roma e visitar as basílicas dos apóstolos. Na época, para muitos, um esforço pesado, difícil, quase impossível, nada a ver com o nosso moderno e prazeroso turismo de carro ou de avião. De qualquer modo, também nós podemos fazer peregrinação. Uma peregrinação verdadeira, não confundindo-a com o turismo mais ou menos devoto. Em certa ocasião, numa determinada paróquia, há muitos anos uma pessoa,  uma pessoa pediu licença ao padre no fim da missa para fazer um convite. Um cristão leigo gostaria de convidar a todos para uma excursão para Aparecida. O padre interrompeu ‘por favor, excursão para Aparecida não, para Aparecida romaria’. 

Alguém, em se tratando de jubileu, se põe a caminho porque sabe que precisa de algo ou de alguém que só pode encontrar longe de si,  em outro lugar, por isso é preciso sair, é preciso caminhar. E quem parte está decidido a mudar e projeta o encontro com algo ou alguém que ainda não conhece e do qual espera uma luz, o perdão, a saúde, a salvação. 

Percorrendo o Evangelho, lá no capítulo 15 de Lucas, o filho levanta-se e resolve partir em busca do pai, para do pai obter o perdão. O evangelho recomenda ainda em Mateus, para deixar as ofertas diante do altar e sair visando a promover a reconciliação com o irmão ou os irmãos antes de apresentar a sua oferenda a Deus. Quem, ao contrário, considerando-se auto suficiente não se põe a caminho não busca ninguém. Não encontra nada. Nada pode realizar. 

Irmãos, irmãs, quantas pessoas ao longo desses 50 anos passaram por este Santuário que agora nos abriga na forma de uma tenda em busca de um encontro, o encontro com uma mulher. Encontro com uma mãe: a mãe de Jesus, aqui invocada, amada, venerada como Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, que por sua vez, levou 

a um outro encontro, o encontro com um acontecimento, o encontro com uma pessoa, que dá um novo horizonte a vida e com isso uma orientação decisiva: Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. 

Quantos, quantas, aqui neste lugar sagrado, fixando o olhar em Maria a contemplaram e diante dela despejaram o seu pranto, expuseram suas dores, derramaram lágrimas, pedindo sua maternal intercessão e por ela foram ouvidos e ouvidas. Ela que tudo e todos conduz ao coração de seu amado Filho, caminho, verdade e vida. 

Meus irmãos, minhas irmãs, o verdadeiro encontro com Maria é verdadeiro encontro com Jesus. Quem se encontra com a Mãe, se encontra com o filho Jesus e quem se encontra com Jesus, se encontra com os irmãos para amar e servir. 

O evangelho de Lucas, que acabamos de ouvir, apresenta Maria como a representante do povo de Deus, mais exatamente a representante da comunidade dos pobres, aquele pequeno resto de Israel fiel à libertação, que a aguardava ansiosamente. A sua alegria, a alegria de Maria, é a alegria deles, a alegria do povo, da comunidade. Do seu sim nasce o Messias. Do seu sim generoso nasce o Filho de Deus. O Filho do Altíssimo, assim diz o Evangelho. Obra da intervenção divina, mas também da cooperação humana. Que  bonito, meus irmãos e minhas irmãs. Aquele que inicia uma nova história, um mundo novo, surge dentro da história de modo totalmente novo. 

E de Maria, o que é que nós sabemos de Maria? O que nós sabemos é que ela é a serva do Senhor e por isso, desde o princípio, modelo para todo discípulo, ou aquele/aquela que se pretende, que deseja ser discípulo ou discípula.

Sua pessoa, a pessoa de Maria, sua maternidade física foi uma graça única. Sua maternidade no plano espiritual é compartilhada, portanto, por todos os que dão a mesma resposta fiel que ela deu. As maiores implicações da resposta de Maria ao anjo foram resumidas de maneira sucinta no Concílio Ecumênico Vaticano II, na constituição dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja. A Virgem Maria, na anunciação do anjo, recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no corpo. E trouxe com isso, ao mundo, a vida. 

Aquele que trouxe a vida ao mundo, (…) no livro do Apocalipse, ele é aquele que está sentado no trono. Aquele que nasceu de Maria em Belém, por obra do Espírito Santo, e que agora é o Senhor que realiza todas as coisas, que faz novas todas as coisas.

Com ele se estabelece a nova e definitiva Aliança. Caracterizada pela proximidade de Deus e por sua intimidade com as pessoas. Ele, o Senhor que habita no meio do povo, do seu povo, é um Deus itinerante, um Deus que acompanha, um Deus que sofre, um Deus que tem em si os sentimentos do seu povo. É a humanidade inteira que está debaixo de uma única tenda, a tenda do Deus vivo, que deixou o céu para morar onde moram todos os seres humanos. É o que vimos na primeira leitura.

A antiga criação, criação com a morte, o luto, o clamor e a dor foi suprimida. Irmãos e irmãs, já estamos na nova criação, o paraíso terrestre não está às nossas costas, mas diante de nós, em nós, presente em nós, reunidos nesta tenda, como povo amado e querido. 

Ele já está presente e com a nossa colaboração quer transformar a Babilônia que vivemos numa sociedade melhor, mais igualitária, com mais justiça, com mais oportunidade, sem violência, sem destruir as pessoas, a família, a juventude, o trabalhador, sem ódio, sem exclusão, sem conchavos mentirosos, com solidariedade, para usar uma expressão do querido Papa Francisco: com proximidade, oportunidade e dignidade para todos. É o que todo jubileu precisa alcançar, por isso ele sempre abre novos caminhos, novas perspectivas. 

Recordando o convite que as irmãs nos fizeram para esta festa tão bonita nesta tarde, aqui no coração da nossa diocese, nós dizemos “pelo passado, sincera gratidão; pelo presente, alegria; para o futuro a esperança vivenciada no amor e no serviço, a exemplo de Maria”. Amém.