São Pedro e São Paulo são celebrados para nos recordar sua vida de heroísmo e total entrega na difusão da mensagem do Evangelho e construção da igreja nascente.
Nós, como schoenstattianos, cultivamos uma profunda devoção a estes dois santos, cujas estátuas foram colocadas no Santuário Original em 1935, ou seja, desde o início de nossa história em Schoenstatt o Pai e Fundador já apresentava esses dois santos como modelo a ser seguido, não apenas em caráter devocional, mas também como exemplos de “homens novos” que, a partir de suas realidades humanas, a partir de um encontro pessoal com Jesus foram se deixando moldar para se transformar em outros Cristos, corajosos no enfrentamentos de suas próprias fraquezas para se transformarem em aliados do Senhor no lançamento das bases da fé católica.
Ao estudarmos a vida de Pedro e Paulo, percebemos que Jesus lhes deu autoridade para exercerem sua missão de colunas da Igreja. Essa é uma questão muito relevante para nós nos tempos de hoje, em que tudo que se refere à autoridade é profundamente questionado, a começar pela autoridade que deve ser exercida pelos pais no recesso do próprio lar, e vai por aí a fora, passando pela autoridade dos professores nas salas de aula, dos padres, bispos e demais membros da hierarquia da Igreja, pela autoridade dos policiais no exercício de suas tarefas, etc. Sabemos que, quando o Papa vai se manifestar em matéria de fé e moral, ele invoca a autoridade dos apóstolos Pedro e Paulo. Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo, por isso o símbolo do seu martírio é a cruz, e Paulo morreu degolado, e o símbolo do seu martírio é a espada. A autoridade desses santos brota da forma como viveram e como morreram.
Num texto de folheto de missa, encontramos a seguinte mensagem: “Pedro e Paulo: A eles foi conferida uma “autoridade” como caminho para o serviço e a promoção da vida. Jesus compartilha com eles sua mesma “autoridade” que não tem nada a ver com o poder que domina ou a liderança que se impõe. Jesus tem “autoridade” porque o “centro” está no outro; Ele veio para servir. A expressão “autoridade” vem do verbo latino “augere”, que significa literalmente: aumentar, acrescentar, fazer crescer, dar vigor, robustecer, sustentar, elevar, levantar o outro, colocá-lo de pé, impulsioná-lo para frente… É a qualidade, a virtude e a força que serve para apoiar, para alentar, para ajudar as pessoas a serem elas mesmas, para fazê-las crescer, desenvolvendo suas próprias potencialidades. Pedro e Paulo: duas colunas e uma pedra angular” (Pe. Palaoro, Paróquia São João Batista do Ipiranga, São Paulo, Capital).
As duas colunas, bem sabemos, são os apóstolos Pedro e Paulo, e a pedra angular é Cristo. Que bonito e profundamente orgânico a maneira como foi colocado. Cristo é a origem da verdadeira autoridade (autoridade = autor da vida) e Ele a transfere de uma certa forma para Pedro e Paulo. A partir do momento de sua morte, ressurreição e ascensão aos céus, Jesus não estará mais presente fisicamente entre os seus discípulos e precisará deixar outros que, visivelmente, vão continuar a construção da Igreja, portadora dos sacramentos e Corpo Místico do próprio Senhor. Pedro e Paulo têm características bem diferentes e, de certa forma, complementares. Enquanto Pedro vai para Roma, centro do poder político e militar da época, para a partir daí ir forjando as bases da Igreja como instituição, Paulo se lança ao encontro do vasto mundo, a serviço do amor de Cristo que o impulsiona.
Pedro e Paulo não nasceram prontos para a tarefa que o Senhor lhes designaria. Eles eram homens do seu tempo com qualidades e defeitos próprios que, a partir de encontros transformadores com Cristo, se tornaram aptos para a missão a eles destinada. Deles podemos dizer que encarnaram de maneira plena o dito popular: o Senhor não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.
Pedro era um homem da pesca, uma pessoa embrutecida pelo trabalho árduo, um pequeno empresário sócio de seu irmão André, que abandonou tudo para seguir a Cristo. Este o transforma em “pescador de homens”. Ele sacrifica a profissão e as ambições pessoais, e esse seria seu primeiro sacrifício no seguimento de Jesus, que pacientemente o foi educando para ser a pedra sobre a qual edificaria a sua Igreja. Dele Jesus exigiu o sacrifício da vontade. Sacrifica sua vontade em obediência ao Senhor. Pedro nos ensina sempre o sacrifício de si mesmo para obedecer a vontade do mestre. Quando Jesus por três vezes pergunta a Pedro se ele o ama, o apóstolo se entristece por achar que o Senhor duvida do seu amor, mas Jesus o quer confirmar como “chefe” dos apóstolos e lhe diz: “Apascenta as minhas ovelhas…segue-me”. Este seguimento, Pedro bem o sabia, não era algo simples, implicava o mesmo destino de cruz e morte, mas Pedro foi fiel até o fim.
Paulo é o homem da luta, da força, da lei, pois fora formado na escola dos fariseus, o grupo que mais se opôs à pregação de Jesus que ensinava que seu Deus era um Pai amoroso, muito distante de um Deus juiz preocupado com o cumprimento rigoroso e mecânico de regras e leis. No caminho de Damasco, onde cumpriria seu destino de perseguidor dos cristãos, Jesus o derruba por terra e vai, nesse encontro pessoal, transformá-lo para sempre. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” A partir daí, Paulo não deixa de ser o combatente que sempre foi, mas vai agora aprender a lutar contra outros inimigos internos e externos, e “a partir do seu barro” Cristo vai modelar um homem novo que pode afirmar: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Paulo se torna um modelo de autoeducação para nós, pois luta contra o “espinho na carne” que todo ser humano carrega no caminho da busca da santidade diária. Ele certamente viveu um “Nada sem ti, nada sem nós”, até experimentar conforto na revelação de Jesus: basta-te a minha graça!
Hoje, numa época de tantos questionamentos sobre o exercício da autoridade, e num tempo em que a Igreja é atacada a partir de suas bases, recordar Pedro e Paulo é abastecermos a nossa fé com o exemplo de vida desses dois homens do seu tempo que se tornaram homens de todos os tempos, pois seu seguimento ao Senhor é modelo para nós, hoje e sempre. Aprenderam de Jesus que a verdadeira autoridade vem do serviço, como o mostrou no Lavapés, e que essa autoridade nasce do reconhecimento das próprias limitações e fragilidades, e da luta na busca da perfeição que é fruto do esforço humano somado à graça divina. Num tempo em que vemos nossas igrejas cada vez mais vazias, também como consequência dos ataques maciços contra as famílias, aproveitemos os meios que a Divina Providência coloca à nossa disposição, como por exemplo a riqueza dos santuários-lares, e aí nesse ambiente sagrado, como pais e mães, exerçamos a autoridade que nasce do serviço aos nossos filhos, rezemos com eles e por eles, ensinemos as verdades da fé pelo nosso exemplo e por nossas palavras. A Igreja doméstica estará sendo construída sobre a rocha firme que é São Pedro e poderemos proclamar com São Paulo, no final de nossa jornada: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua manifestação gloriosa” (2 Tim 4, 7-8).
João Caetano e Maria Inês – Instituto de Famílias de Schoenstatt